Sabemos que a pandemia impulsionou o uso da tecnologia em diversos segmentos, o que fez com que a necessidade de desenvolvimento de novas plataformas e ferramentas aumentasse significativamente. Também por isso, os investimentos em saúde, sobretudo nas healthtechs, estão aumentando de forma significativa.
A partir do uso de ferramentas de tecnologia na saúde, as empresas estão apresentando soluções para um dos principais problemas do Brasil, que notadamente conta com acesso limitado aos serviços, baixa eficiência e experiência de atendimento ruim.
De acordo com dados do IBGE, o país está entre os 10 principais mercados de saúde do mundo. O gasto com saúde por aqui equivale a 9,2% do PIB nacional e o desembolso das famílias brasileiras neste segmento representa 5,4% do PIB. E este não é um fenômeno restrito ao Brasil. O investimento em saúde em escala global registrou crescimento pelo sétimo trimestre consecutivo. O financiamento na área ultrapassou US$ 34,7 bilhões, em quase 1.600 negócios registrados.
É o que mostra a pesquisa State Of Healthcare Q2’21 Report: Investment & Sector Trends To Watch, feita pela CB Insights, consultoria privada que realiza análises de negócios e fornece inteligência de mercado para empresas e investidores. De acordo com o estudo, que traz os principais indicadores do segundo trimestre de 2021, a aceleração de iniciativas de transformação digital foi o grande motor a tracionar o investimento em saúde no mundo, com as startups de saúde digital respondendo por cerca de 40% dos negócios e também do financiamento obtido no trimestre, com US$ 14,1 bilhões. Um verdadeiro recorde.
O levantamento da CB Insights revela também que os principais temas do trimestre incluíram atenção à experiência do paciente, o aumento da conscientização sobre as iniquidades na área da saúde e ainda um aumento da pressão para que seja feita uma regulação efetiva do serviço de telessaúde.
Confira a seguir as tendências de investimento em saúde apontadas no estudo:
Inteligência Artificial: recorde em investimento
Tecnologias de Inteligência Artificial (AI) estão sendo cada vez mais utilizadas na área da Medicina, tanto para tratamento quanto para prevenção de doenças, e seguem como uma das tendências para investimento em Saúde, segundo o relatório. As aplicações no setor bateram recorde no segundo trimestre de 2021, chegando a US$ 2,7 milhões.
Além disso, o interesse pelo assunto nunca esteve tão em alta no meio acadêmico: o tema somou 2.754 referências em artigos científicos no primeiro semestre – maior número dos últimos cinco anos.
Quando o assunto é investimento, a farmacêutica Exscientia, sediada no Reino Unido, é um dos destaques mundiais. A empresa atraiu investidores, como o SoftBank Group, Novo Holdings, Farallon, Capital Management e BlackRock para o desenvolvimento de tecnologias que analisam literatura genética e biológica utilizando Inteligência Artificial para identificar alvos potenciais de determinadas drogas. A tecnologia também analisa dados de experimentos para tentar prever melhores formas de usá-las em tratamentos. Somados, os investimentos já alcançam a cifra de US$ 672 milhões.
Outro exemplo de como a IA tem sido utilizada vem da Monogram Health. A startup norte-americana desenvolve tecnologia para monitorar pacientes com doenças renais. O objetivo é prever a progressão da doença e também apontar tratamentos individualizados, específicos para cada paciente. Com investidores como Frist Cressey Ventures, Norwest Venture Partners, TPG Capital e Humana Ventures, as aplicações nessa tecnologia já somam US$ 180 milhões.
Telessaúde cada vez mais presente
Alavancada pela pandemia, a Telessaúde é outra tendência que merece atenção. De acordo com o relatório da CB Insights, as aplicações neste segmento bateram recorde pelo 4º trimestre consecutivo, chegando a US$ 4,9 milhões no segundo trimestre.
Somado a isso, o interesse de gigantes como a Walmart e a Amazon no setor – ambas as companhias passaram a investir nesse ramo – é outro indicativo da expansão do setor.
Entre os serviços da área, a teleterapia aparece como destaque, com quase 40% do total de atendimentos no segundo trimestre deste ano, conforme o relatório da CB Insights. Na sequência, aparecem o segmento de monitoramento remoto e diagnósticos (21%), telemedicina (18%), serviços de capacitação virtual (16%) e telefarmácia (5%).
O estudo destaca ainda os cuidados de doenças crônicas por meio remoto como uma área ativa para desenvolvimento de negócios no segundo trimestre de 2021. A empresa norte-americana Spiras Health vem se destacando no setor. Ela oferece tratamento multifocado para pacientes com doenças crônicas de alta complexidade, agravadas por determinantes sociais.
“Robôs” em expansão
O setor que reúne empresas que desenvolvem dispositivos médicos para auxiliar no diagnóstico, cura, mitigação, tratamento, monitoramento ou prevenção de doenças, é outro destaque.
Os investimentos nesse segmento somaram US$ 8,2 milhões no segundo trimestre de 2021, mostra o relatório da CB Insights. Outro indicativo de que a área é uma das tendências desse ano é que a quantidade de negócios em estágio inicial nesse ramo aumentou pela primeira vez em 27 meses.
Um dos exemplos de como o setor vem atraindo novos investimentos é o caso da CMR Surgical e seu “cirurgião robô”. A empresa britânica de tecnologia médica arrecadou $600 milhões para abastecer a expansão internacional da tecnologia.
Trata-se do robô “Versius”, que já está presente em hospitais de todo o Reino Unido, Índia, Alemanha e Austrália. A intenção é tornar cirurgias minimamente invasivas mais acessíveis ao expandir a gama de procedimentos que podem ser executados pelas máquinas.
Tecnologias para saúde mental
Com a soma de investimento recorde de US$ 1,3 bilhão em três anos, o segmento de tecnologias aplicadas à saúde mental também desponta entre as tendências em Saúde apontadas pelo relatório da CB Insights.
O interesse no setor nunca esteve tão alto, e a presença do assunto em artigos científicos subiu de patamar a partir de 2020, alcançando 8.400 menções em trabalhos acadêmicos no começo deste ano.
Destaque para Cerebral, startup de telepsiquiatria que oferece aconselhamento sobre cuidados e serviços de entrega de receitas para pessoas que sofrem de ansiedade e depressão. Em junho, a empresa arrecadou $127 milhões em uma nova rodada de investimento
Mais tendências
O estudo da CB Insights cita ainda outras três áreas que merecem atenção em 2021. O setor de Terapêutica digital é uma delas. O segmento reúne empresas que desenvolvem intervenções terapêuticas a partir de softwares para prevenir, gerenciar ou tratar condições médicas, com investimentos que somaram US$ 589 milhões no segundo trimestre deste ano.
Destaque também para o ramo das chamadas ciências “Ômicas”, que inclui empresas envolvidas na captura, sequenciamento e análise do genoma, além de dados transcriptômicos, proteômicos e metabolômicos. Os investimentos na área também atingiram novo recorde no primeiro trimestre de 2021, somando US$ 2,8 bilhões.
O relatório cita ainda o segmento de empresas que comercializam soluções de software para fornecedores da área de Saúde. O setor registrou um recorde em investimentos no primeiro trimestre deste ano, alcançando US$ 2 milhões. Conforme o estudo, o destaque fica por conta dos negócios considerados de médio porte, que registraram alta no segundo trimestre.
Luigi Pizzichemi é Cofundador, Chief Operations Officer e está à frente da área de Mercado e Operações da Neomed, healthtech brasileira que desenvolveu uma plataforma inteligente e integrada para reduzir a distância entre os sintomas e o tratamento. Luigi é Engenheiro pela PUC-RJ e também atua no conselho da ONG Parceiros da Educação RJ.